quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Nietzsche, a Vontade de Potência e a Crítica à Verdade e à Moral


Nietzsche foi um filósofo alemão, do Século XIX, conhecido por suas críticas à religião, à moral e à própria filosofia entendida como busca da verdade. Segundo ele, o que define não somente a vida humana, mas toda a realidade, é o que ele chama de "Vontade de Potência" ou "Vontade de Poder". 

Essa característica essencial que anima todos os seres no mundo consiste num impulso à satisfação de si mesmo e no domínio sobre as outras coisas. A história do mundo é a história dos conflitos. Animais caçam uns aos outros, machos de uma mesma espécie brigam pelo posto de líder do grupo ou de parceiro sexual das fêmeas. As próprias plantas disputam entre si os raios solares, enquanto que outras se enrolam nas árvores sugando a sua seiva vital. Todos estão em guerra, e vence aquele que for mais forte. A própria história da evolução é a história da sobrevivência dos mais fortes e do sacrifício dos mais fracos. A seleção natural de Darwin mantém vivos os seres adaptados e extermina os inadequados às novas necessidades.

O ser humano, sendo um animal entre outros, não poderia, assim, exigir de si mesmo nenhuma diferença essencial. Ele também quer se impor sobre os outros. Ele quer dominar o seu meio e garantir a satisfação dos seus impulsos. Naturalmente, se estes impulsos encontram algum obstáculo, a intenção inicial da Vontade de Potência é destruir o impedimento, ultrapassando a dificuldade e encontrando um caminho para o objetivo inicial: a própria satisfação.

Assim, um empregado tem o impulso de adquirir uma condição melhor de vida e poder expandir-se sem impedimentos. Contudo, ele não pode fazê-lo desde o começo, tendo de submeter-se ao seu patrão. Esta submissão não o deixa satisfeito, pois é outro quem exerce a Vontade de Potência diretamente. Os homens não gostam de renunciar às próprias vontades. 

Quando a Vontade de Potência não pode expressar-se diretamente, ela não cessa de existir, mas assume um modo disfarçado de exercer-se. Assim, a obediência do empregado é, na verdade, uma estratégia para que ele consiga progredir e futuramente possa exercer a Vontade de Potência diretamente. Ele sabe que se não se submeter, será reduzido a uma condição ainda mais pobre, o que significará uma ainda menor possibilidade de satisfação de sua Vontade de Potência.

Nietzsche é conhecido como um dos mestres da suspeita, pois reconhece que é muito comum que por trás das alegadas boas intenções humanas se escondam as verdadeiras razões das nossas ações, que são, sempre, expressões, diretas ou disfarçadas, da Vontade de Potência.

Dois disfarces ganharam destaque na história: a Verdade e a Moral. Nietzsche faz uma dura crítica a ambas.

Nietzsche dirá que a Verdade é uma mentira na qual o Homem acredita. O seu objetivo é tornar o mundo mais suportável. O homem assim pretende conhecer o que as coisas são e como elas se comportam. Desse modo, ele nutre a ilusão de dominar e sentir-se seguro. A verdade, como se vê, serve à vontade de dominação. Ela pretende dominar não somente a realidade material, mas também os outros homens. Dizer que algo é verdade significa dizer que o seu contrário é mentira, isto é, que não deve ser aderido por ninguém. Há na verdade uma vontade de proibir a liberdade do outro. Proclamar a verdade é o mesmo que estabelecer um domínio e ordenar que todos abracem o que eu digo. A verdade, assim, não é um caminho de libertação, mas de aprisionamento já que pretende limitar as ações e os pensamentos humanos.

Quanto à moral, ela consiste no nosso sistema de valores que divide as ações humanas em boas e más. Desde crianças aprendemos que devemos sempre agir de um modo correto, e que isto se faz justamente restringindo os nossos desejos. As ações morais geralmente se identificam com ações de auto-sacrifício, isto é, ações nas quais a pessoa deve negar a própria vontade e agir sem pensar em si mesma. O grande símbolo da moral ocidental é a Cruz, que representa a total negação que o homem deve fazer de si mesmo. Nietzsche dirá que este é o símbolo da negação da vida, pois viver é expandir-se, é liberar a vontade de poder. A moral, assim, ao invés de ser uma coisa boa, é uma coisa ruim, pois visa negar o que é mais verdadeiro no mundo: a Vontade de Potência. 

Nietzsche chamará a moral cristã de moral de rebanho, e pretenderá dizer como ela teve início: como os homens querem dominar uns aos outros, é claro que os que conseguem uma total dominação, os heróis, os vitoriosos, são sempre uma minoria. A maioria, portanto, é composta dos fracos. Estes fracos, não podendo manifestar sua Vontade de Potência diretamente, inventam a moral justamente para se afirmarem superiores aos fortes num outro sentido: o dos valores. Foi assim que o homem forte, o transgressor, o vitorioso, etc., tornou-se o homem mau, enquanto que o homem passivo, submisso, temperante, etc., será o homem bom. O homem moral mente para si mesmo e para os outros. Já o homem violento é honesto, pois expressa, sem esconder, o que realmente o anima.

Uma expressão muito clara da vontade de dominação por trás da moral se encontra no desejo do Céu. Para Nietzsche, o Céu é uma invenção humana própria dos ressentidos e fracos, aqueles que, não podendo vencer neste mundo, criam um outro mundo onde poderão se vingar: gozarão da felicidade enquanto que os que foram fortes aqui sofrerão eternamente. O Céu, assim, a despeito de toda aparência de beatitude, é um modo de vingança, segundo Nietzsche.