terça-feira, 10 de setembro de 2019

Sigmund Freud e a descoberta do Inconsciente

Sigmund Freud

Sigmund Freud era um médico austríaco que, a partir do tratamento de pacientes com histeria, descobriu uma série de dados que formariam, depois, a Psicanálise, também chamada de Psicologia Profunda. Ao perceber que os pacientes sofriam de sintomas que não se explicavam por nenhum problema fisiológico, ele chega à sua primeira conclusão: a mente não é o mesmo que o cérebro. A partir de então, Freud concentrará seus estudos sobre esta instância não física, mas tampouco espiritual, chamada mente ou psique.

Descobrirá que a psique é bem maior do que se supunha, e que a maior parte dela encontra-se submersa, inacessível à pessoa. Para ilustrar esta descoberta, usará a figura do Iceberg, que possui apenas uma pequena parte acima do nível da água, estando todo o restante abaixo, invisível aos olhos de um observador. A pequena parte visível, aquilo que percebemos da nossa mente neste exato momento, ele chamou de "consciente". A parte submersa, escondida ao olhar interior, ele chamou "inconsciente". Haveria, ainda, uma instância de interface entre as duas: o pré-consciente. Nele estariam as informações que, embora não estejam conscientes neste exato momento, podem ser trazidas à consciência por um simples ato de vontade. Pensemos aí nas datas de aniversário, nomes de pessoas importantes, formação cultural, etc.


Esta é a primeira divisão que Freud faz da mente humana: Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente. Restava agora dizer por que ela está, assim, tripartida, e por que a maior parte dela é inconsciente.

Freud descobrirá que tudo o que aparece no consciente é, na verdade, determinado pelos conteúdos inconscientes. A suposta liberdade humana não era mais que uma ilusão: nós escolhemos dentre as opções que já nos são dadas previamente pelo inconsciente. O próprio repertório de possibilidades nos é predeterminado, e, além disso, as inclinações para uma opção ou outra, também. As nossas antipatias, nossos medos, e outros comportamentos estranhos, que não sabemos por que os temos, também seriam manifestações destes conteúdos inconscientes.

Cumpria, portanto, descobrir de que é formado o inconsciente e por que ele tende a permanecer inconsciente.

As descobertas dele foram as seguintes:

O Inconsciente é basicamente formado de duas coisas: a) libido ou desejo sexual; b) agressividade. Essas duas coisas serão chamadas de pulsões, e ditam duas inclinações naturais do ser humano: uma que nos faz desejar coisas e puxá-las a nós; outra que nos faz repelir coisas e tender a destruí-las. As duas formam o "Princípio do prazer", pelo qual buscamos sensações agradáveis e evitamos desconfortos.

A libido será chamada de "Pulsão de vida", pois ela visa, a partir do gozo, produzir um ganho qualitativo da vida do sujeito. A agressividade será chamada de "Pulsão de morte", pois visa matar o objeto que nos causa qualquer desconforto, contrariando o impulso natural do gozo.

A Pulsão de Vida recebe o nome de "Eros", o deus grego do amor. É daí que vem o termo "erótico", relacionado ao sexo. A Pulsão de Morte recebe o nome de "Thânatos", o deus grego da morte.

Eros e Thânatos
Eros e Thânatos são os conteúdos do inconsciente. Mas por qual motivo eles são inconscientes se todos nós notamos facilmente que temos desejo e raiva? O desejo e a raiva que percebemos em nós não são senão versões muito pálidas das suas fontes inconscientes. A libido e a agressividade originais confrontariam em absoluto qualquer valor moral que cultivamos. Perceberíamos que nós somos, no fundo, tarados e psicopatas, profundos egoístas preocupados somente com a própria satisfação. Essas descobertas subjetivas seriam profundamente desconfortáveis a nós, pois temos o intento de viver de um modo moralmente aceitável. Por este motivo, há na própria mente uma defesa que não permite que aquilo que nos faria sofrer intensamente venha à superfície da psique e torne-se consciente. Este mecanismo de defesa é chamado de "recalque".

O recalque é uma espécie de polícia interna que não permite que desejos inconvenientes surjam na consciência. A natureza do recalque é moral. Mas, ainda que não percebamos estes desejos em nós, isto não quer dizer que eles não existam. Apenas não conseguem vir à superfície.


Mas nos enganamos, também, se julgamos que eles ficam quietos. Por se tratarem de impulsos, de desejos, eles são constituídos por uma espécie de energia que visa a própria satisfação. São princípios de movimento. Ficam, assim, forçando a psique para que sejam aceitos. Como não são, eles se disfarçam e assumem formas diferentes de modo a serem aceitos na Consciência.

Entre os disfarces do inconsciente, os mais comuns são:

Os lapsos, atos falhos, tiques, fobias, neuroses, sonhos, e a linguagem em geral.

Algumas dessas manifestações são aceitáveis e não causam grandes problemas. Porém, às vezes as manifestações do inconscientes assumem formas problemáticas, como os sintomas neuróticos e histéricos. Nestes casos, é conveniente que, com a ajuda da Psicanálise, o problema seja resolvido. O caminho para isto é a descoberta do conteúdo original que está provocando aquele sintoma em questão.

A Psicanálise buscará, a partir da sua metodologia, vencer as resistências do recalque. Este, por sua vez, usará todos os artifícios de que dispõe para não entregar o conteúdo original que está produzindo aquele problema. Uma vez, porém, que o analista seja habilidoso, será possível ultrapassar a defesa e, então, o conteúdo original aparece na consciência. Isto gerará, obviamente, uma profunda angústia e descarga de ansiedade. Este efeito é conhecido como "catarse". Isto, porém, será libertador, pois a energia antes represada poderá, enfim, vir à tona e ser liberada. Com isto, o sintoma anterior desaparece.

Freud fará, em seguida, uma segunda divisão da Psique: ela será composta de três instâncias, novamente, mas agora elas receberão o nome de Id, Ego e Superego.



O Id será a parte desejante da psique, o correspondente à libido, e a forma original deste componente será o desejo sexual.

O Superego será a parte moral ou repressiva. Ela consiste na autoridade paterna internalizada. Quando crianças, o pai é visto como o limite, aquele que nos ameaça se fizermos algo errado. Conforme crescemos, esta força de coação é introjetada, e, então, já não precisamos de uma ameaça externa para evitar fazer coisas erradas. E quando as fazemos, o Superego nos pune nos deixando com a famosa "consciência pesada". O Superego, assim, assume o lugar da agressividade que, então, é descarregada contra o próprio sujeito que ousou contrariar os limites da moral.

O Ego é o eu, a parte da psique que decide como vai se relacionar com o mundo a partir dos impulsos contraditórios do Id e do Superego. 



Uma forma fácil de ilustrar esta tensão é pensarmos naquelas figuras famosas dos desenhos animados: o anjinho bom e o anjinho mau, cada um de um lado, aconselhando a pessoa a fazer algo errado ou a não fazê-lo. O anjinho bom seria o Superego, preocupado com a manutenção da ordem. O anjinho mau seria o Id, preocupado com o prazer da pessoa. No geral, o Ego dá um jeito de satisfazer em parte cada um deles: o rapaz, ao ver passar uma moça bonita, receberá as sugestões do Id: "Vai, pega, usa, toma para você!". O Superego, por sua vez, intervirá: "Não. É errado, e você tem namorada, e ela provavelmente também. Fique quieto!". O ego, prensado entre as duas energias, não atacará a jovenzinha, satisfazendo o Superego. Mas não se esquivará de olhá-la e de desejá-la secretamente, oferecendo algo de si aos reclames do Id.