segunda-feira, 24 de março de 2014

Questões para o primeiro instrumento de Filosofia


Alunos, prestem atenção: abaixo estão as questões de cada ano. Pegue só as do seu ano.
Você vai escrever uma redação de pelo menos 20 linhas explicando o seguinte:

1ºs anos

- O que significa o nome 'Filosofia';
- Qual o processo (caminho) percorrido desde a ignorância até o conhecimento;
- O que é a dúvida e qual a sua importância para o conhecimento;
- O que são o conhecimento pela razão e o conhecimento pelos sentidos. Dê exemplos.
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2ºs anos

- O que é sensibilidade;
- Quais são os dois modos de conhecer próprios do ser humano;
- Por que os sentidos são menos confiáveis que a razão;
- As características do conhecimento sensível e racional.
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3ºs anos

- A diferença entre a Filosofia Moderna e as anteriores;
- Se a Filosofia moderna está voltada para o sujeito ou para o objeto. (Lembrando: sujeito é a pessoa que conhece; objeto é a coisa que é conhecida. Ex.: se eu estudo matemática, eu sou o sujeito e a matemática é o objeto);
- De que modo a percepção (5 sentidos) pode nos enganar.

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Atenção: 

- Não precisam copiar esses pontos na folha. Basta fazer só a redação. Eles são somente para orientar vocês sobre o que escrever;
- Como já dito, é uma redação; não façam respostas a cada questão acima separadamente como se fosse uma atividade. Façam um texto corrido;
- O trabalho, para vocês, deve ser INDIVIDUAL;
- Expliquem as respostas;
- Não filem. Naturalmente, vocês vão poder olhar no caderno ou na net. Porém, se vocês colocarem igualzinho ao caderno ou à net, eu vou saber. A consulta deve ser apenas para vocês lembrarem do assunto. A escrita, porém, deve ser com as palavras e o entendimento de vocês;
- Se duas folhas estiverem com a mesma resposta, as duas serão anuladas.

Critérios de Avaliação:

- Quantidade de linhas (mínimo de 20);
- Objetividade (não fugir do assunto nem falar da vó);
- Argumentação (explicar o que está escrevendo);
- Coesão textual (não escrever doidamente, mas com ordem).

quarta-feira, 19 de março de 2014

Modernidade e o culto do Eu


Nas sociedades antigas, era comum vermos as pessoas se sacrificando por realidades que consideravam superiores a si mesmas, como a família, a sociedade, ou mesmo ideais como honra, justiça, etc. Na Grécia, os cidadãos eram educados num conceito de virtude que se chamava 'Areté'. Isto fazia com que o grego vivesse em função da cidade, e que a maior honra de um grego fosse morrer em combate em defesa do seu povo, de modo que, quando eles voltavam das guerras, as suas mulheres, que os estavam esperando, faziam festa se eles não retornassem, pois perecer em combate era um modo de completar a sua formação moral.

Algo similar ocorria com os antigos samurais do Japão. Se, numa luta, um deles perdesse e não morresse, ele considerava que manter-se vivo seria desonrar a si mesma, à sua família e à sua comunidade. Deste modo, eles realizavam o Haraquiri, ritual onde eles se suicidavam com a ajuda de um amigo samurai.

Haraquiri Samurai

Em ambos os casos, vemos que o sujeito individual está a serviço de realidades que ele entende mais nobres que a própria vida. Os primeiros cristãos também tinham essa prática: para eles, era a suprema honra morrer por Deus. De novo, a idéia de que a vida pessoal deve estar a serviço de algo que os ultrapassa.

Na sociedade moderna, ao contrário, as pessoas acostumaram-se a viver somente para o próprio eu. O que há de mais importante é satisfazer às próprias vontades, aos próprios caprichos. Os amigos são mantidos enquanto podem proporcionar prazer. Os relacionamentos avançam rapidamente para o contato sexual porque o que importa é satisfazer-se. Os casamentos se dissolvem facilmente porque a idéia de sacrifício saiu do horizonte das pessoas, e em seu lugar estabeleceu-se a idéia de que o Eu é o centro do mundo. A própria idéia de Deus tornou-se somente um meio para adquirir riquezas, poder, status, etc.

A que se deveu tão radical mudança nos costumes? Quando chegamos a um ponto, é preciso observarmos qual o caminho que a ele conduziu. E, ao olharmos a história, é possível perceber alguns eventos que pelo menos influenciaram esta mudança de mentalidade. Dentre eles, citamos somente três:

- A Reforma Protestante (1517) - Esta reforma aconteceu porque um monge agostiniano chamado Lutero, descontente com alguns ocorridos locais, resolveu romper com a Igreja Católica e, no intuito de atacá-la, elaborou as chamadas 95 teses. O que nos importa nisso tudo é a mudança de perspectiva que ele provocou com relação à Sagrada Escritura. Antes dele, a Bíblia era sempre interpretada e ensinada pela Igreja Católica. Além disso, era dificílimo alguém ter uma bíblia pelo simples fato de que, não havendo ainda a imprensa, não tinha como imprimir bíblias e levá-las para casa. O único modo de tê-las era pedir a um monge copista para copiá-la inteira, o que demorava e custava caro, ou, então, copiá-la a própria pessoa de próprio punho. Obviamente que, além de nem todo mundo saber ler e escrever, menos ainda tinham disposição de fazer tamanho esforço. Assim, as pessoas tomavam conhecimento do conteúdo bíblico através das Liturgias católicas. Lutero, contudo, traduziu a Bíblia para o alemão, de modo que as pessoas agora podiam lê-la na sua própria língua, pois, antes, a Bíblia estava sempre em latim. Nesta mudança, Lutero dizia que os simples leigos não necessitavam mais da hierarquia da Igreja para compreender as verdades bíblicas. Bastaria que eles lessem por si mesmos e o Espírito Santo lhe ensinaria pessoalmente. Ora, isso gerou nas pessoas a idéia de que elas tinham um acesso privilegiado a Deus e que, portanto, não precisavam mais da Igreja. A consequência foi uma consciência aumentada do valor do próprio eu, o que também representou uma gênese de individualismo.

- Renascimento e Invenção da Imprensa - Por volta de 1439, o gráfico alemão Johannes Gutemberg inventou a primeira máquina de impressão, o que viria, mais tarde, a revolucionar a cultura. A partir desta invenção, alguns conteúdos culturais próprios da sociedade antiga - sobretudo Grécia e Roma - puderam ser divulgados e lidos. Antes disso, toda a educação ficava por parte da Igreja. As universidades, criadas por ela, obviamente estavam sob seu domínio. As crianças não tinham outra alternativa a não ser estudar nas escolas vinculadas aos mosteiros. Isto se dava não por qualquer estratégia de dominação da Igreja, mas porque todas as iniciativas educativas vinham por meio dela. Agora, porém, com a divulgação destes conteúdos antigos, as pessoas podiam ter a possibilidade de terem uma auto-educação, isto é, podiam aprender sem necessariamente pôr-se sob a influência da Igreja. Isto favoreceu também uma idéia de autonomia intelectual e aumentou, também, a idéia da importância de si mesmos, já num tipo de educação que ia se tornando progressivamente secular - isto é, não religiosa.

- Iluminismo - foi um movimento intelectual ocorrido no século XVIII, sobretudo na França. O termo "Iluminismo" ou "Século das Luzes" foi usado para contrariar a Idade Média que eles chamavam de "Idade das Trevas". As trevas aí se referiam à idéia de uma educação vinculada e submetida à religião. Na modernidade, no entanto, eles diziam que a razão estava solta e que podia desenvolver-se à vontade sem os limites impostos pela religião. Daí que as "luzes" do iluminismo representavam a razão humana, que, segundo acreditava-se, agora iria poder levar a humanidade um novo nível de civilização, já que havia se livrado da 'superstição religiosa'. Isto significou uma confiança exagerada na razão pessoal, e como a razão é algo individual - cada um tem uma -, as pessoas passaram a creditar um valor exacerbado ao próprio Eu.

Estas são apenas algumas das influências históricas que geraram a percepção característica da modernidade, que é uma atenção privilegiada ao próprio eu.

Platão: Sensibilidade x Razão


Para compreendermos Platão, é preciso, primeiramente, reconhecermos que nós temos em nós dois modos de conhecer. O primeiro é o dos 5 sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar. O segundo é o da Razão.

A razão é interna a nós. Já os sentidos são como janelas que nos informam sobre aquilo que acontece fora de nós. Ao sairmos de casa, vemos pessoas, escutamos sons, sentimos cheiros, tocamos objetos, etc. Todos esses conhecimentos nos vêm pelos sentidos.

Os sentidos são janelas

Ao entrarem em nós, essas informações sensíveis (dos sentidos) comunicam-se à razão.

Porém, existem também conhecimentos específicos que são da razão, e não dos sentidos. Por exemplo: quando calculamos 5+5, nós sabemos que o resultado é dez, não porque vejamos ou escutemos. Não é nenhum sentido que faz o cálculo, mas a pura razão. O mesmo ocorre quando dizemos que todo ser humano é mortal. Ora, não há como sabermos isto pelos sentidos. De fato, é verdade que vemos uma ou outra pessoa mortas. Porém, daí não é possível dizer, com base nisso, que todas as pessoas morrem. Se assim fosse, ao virmos algumas pessoas com diabetes, diríamos que todas as pessoas têm diabetes, o que não é correto. Ora, sabemos que todas as pessoas morrem por uma operação da pura razão. Só ela pode dizer da totalidade dos homens mesmo que os sentidos nunca tenham visto a todos os homens, etc.

Pelos sentidos, nós conhecemos somente as realidades físicas: cores, tamanhos, cheiros, gostos, formas, etc. Isto significa que qualquer realidade que não seja material não será percebida pelos sentidos: ex.: pensamentos, sonhos, desejos, e quaisquer realidades sobrenaturais, como anjos, almas, Deus, etc. Estas outras realidades, se podem ser conhecidas, o podem a partir ou da pura razão ou de alguma outra capacidade interna humana.

O conhecimento que vem dos sentidos chama-se 'conhecimento sensível' ou 'sensibilidade'. O conhecimento que vem da razão chama-se 'conhecimento racional'.

Agora, observemos os casos abaixo e digamos se eles são conhecimentos sensíveis (e de qual sentido) ou racionais:

1- O sol é menor que a terra;
2- A laranja estava doce;
3- A equação estava correta;
4- O barulho é muito alto;
5- As pessoas têm sonhos;
6- A palavra estava escrita errada. 

Respostas:

1- é um conhecimento sensível, porque dizemos que o sol é menor que a terra com base naquilo que vemos. No entanto, sabemos que o sol, na verdade, é bem maior que a terra. Este último conhecimento é racional.
2- Conhecimento sensível; paladar.
3- Conhecimento racional, porque é a razão que calcula; lembremos que equações são operações matemáticas;
4- Conhecimento sensível; audição;
5- Conhecimento racional, pois não é possível saber, pelos sentidos, dos sonhos das pessoas, a menos que elas contem. No entanto, mesmo que não nos digam, sabemos que elas têm sonhos;
6- Conhecimento racional. À primeira vista, podemos pensar que se trata de um conhecimento sensível, pois conhecemos a palavra escrita pela visão. No entanto, é a razão que percebe se ela está certa ou errada. O olho apenas informa, mas não sabe dizer se está correta. Este é um trabalho da razão.

Os conhecimentos sensíveis são, ainda, mutáveis, isto é, estão sempre nos dando informações que mudam. Três pessoas irão discordar sobre a frieza do tempo ou de um ar condicionado, bem como sobre a doçura ou o amargor de um café. Uma mesma pessoa terá opiniões diferentes sobre uma mesma música desde que a escute diversas vezes, etc. Os sentidos sempre nos dizem algo diferente. Se assim é, não é possível saber, através deles, como é a realidade em si mesma. Se uma pessoa diz que o café está amargo, outra diz que está doce, outra ainda que não está nem amargo nem doce, como sabermos se o café está, de fato, bom? Se uma pessoa nos diz que o ar condicionado está muito frio, outra diz que não está e que ainda está quente, e outra, enfim, diz que o clima está perfeito, como saber a realidade? Pelos sentidos, não é possível.

Pelos sentidos, então, não é possível dizer o que são as coisas, já que aquilo que eles nos dizem está sempre mudando. Aquele que se baseia nos sentidos para falar da realidade termina emitindo uma impressão individual e particular, que chamamos de opinião.

A razão, pelo contrário, nos diz sempre a mesma coisa. Se perguntarmos se o tempo está frio ou quente, as pessoas discordarão porque estão usando a sensibilidade. Porém, se perguntarmos: "o que é o frio?", estamos forçando-as a responder usando a razão e, assim, as respostas serão sempre as mesmas e nunca mudarão. Mesmo que cada um a expresse de um modo diferente, no fundo a idéia será a mesma. 2+2=4 - Esta é uma verdade válida desde o início do mundo e será válida até o fim do mundo, em qualquer lugar. Isto se dá porque a razão nos dá informações que correspondem à realidade e que, por isso, não mudam, a menos que a realidade mude, o que não ocorre.

A razão nos dá, não a opinião, mas a verdade.

Do acima dito, podemos concluir que a razão - que sempre nos diz a mesma coisa - é mais confiável que os sentidos - que nos dizem sempre coisas diferentes. Platão, ao perceber isto, chegará a afirmar algo muito sério: a realidade sensível, tal qual a conhecemos, é uma grande ilusão.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Conceito e conhecimento


Dizíamos que o ser humano tem um desejo natural de conhecer e que este desejo se manifesta como pergunta. A primeira pergunta que fazemos àquilo que queremos conhecer é: “o que é isto”? Quando fazemos esta pergunta, não estamos nos perguntando a respeito de caracteres secundários1. Ao olharmos uma árvore e nos perguntarmos “o que é isto?”, não estamos querendo saber da sua cor ou do tamanho das suas folhas. Desejamos que nos seja dito algo mais fundamental, mais profundo. A resposta que nos satisfaz é: “isto é uma árvore”. Note que existem vários tipos de árvores, cada uma com folhas específicas e cores próprias. Não são essas coisas que a fazem ser uma árvore. A pergunta “o que é isto?” ultrapassa os dados dos sentidos2.

Os sentidos humanos captam somente aquilo que é externo: cor, tamanho (visão), textura (tato), cheiro das folhas ou dos frutos (olfato), gosto dos frutos (paladar), etc. Esses dados, obtidos pelos sentidos, apenas percebem aquilo que distingue uma árvore das outras, mas não a sua natureza subjacente3. Esta é percebida pelo intelecto. Ao fazer a pergunta: “o que é isto?”, estamos procurando o conceito ou a definição.

Nem sempre é fácil dar a definição de algo, pois, ao sermos perguntados, tendemos a responder com os aspectos externos do objeto4. Se vimos uma porta, e nos perguntamos sobre o que é uma porta, a nossa tendência é dizer que é um objeto de madeira, retangular, que abre e fecha, todas essas informações retiradas do sentido da visão. Quando, no entanto, dizemos que uma porta é um objeto que, se interpondo entre dois ambientes, veda ou permite a passagem por ela, notemos que não distinguimos aí de que é feita a porta, ou a cor, ou o formato, mas falamos sobre o que é “ser porta”.

Tanto os sentidos quanto a razão nos permitem conhecer as coisas. Com efeito, dizer que uma porta é azul é, também, conhecer algo de um objeto em particular. Mas este azul será um dado secundário à existência da porta enquanto porta. Conhecer algo, portanto, é, primeiro, saber o que aquilo é e, só depois, distinguir-lhe as características específicas.

O termo “intelecto”, vindo do latim “intellectus”, pode significar “leitura por dentro”. Isso significa que, enquanto os nossos sentidos percebem a aparência de um objeto, o nosso intelecto penetra no objeto e capta o que ele é debaixo da aparência.

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1- Caracteres secundários - traços de um objeto que, se lhe fossem distintos, o objeto permaneceria sendo o que é. Ex.: cor, tamanho, etc.
2- Dados dos sentidos - informações que são percebidas pelos 5 sentidos, que são a audição, a visão, o olfato, o tato e o paladar.
3- Natureza subjacente - é a realidade que está sob as características secundárias. Por exemplo, a porta é a realidade que está sob a cor azul.
4- Aspectos externos dos objetos - o mesmo que caracteres secundários.