Dizíamos que o ser humano tem
um desejo natural de conhecer e que este desejo se manifesta como pergunta. A
primeira pergunta que fazemos àquilo que queremos conhecer é: “o que é isto”?
Quando fazemos esta pergunta, não estamos nos perguntando a respeito de
caracteres secundários1. Ao olharmos uma árvore e nos perguntarmos “o que é
isto?”, não estamos querendo saber da sua cor ou do tamanho das suas folhas. Desejamos
que nos seja dito algo mais fundamental, mais profundo. A resposta que nos
satisfaz é: “isto é uma árvore”. Note que existem vários tipos de árvores, cada
uma com folhas específicas e cores próprias. Não são essas coisas que a fazem
ser uma árvore. A pergunta “o que é isto?” ultrapassa os dados dos sentidos2.
Os sentidos humanos captam
somente aquilo que é externo: cor, tamanho (visão), textura (tato), cheiro das
folhas ou dos frutos (olfato), gosto dos frutos (paladar), etc. Esses dados,
obtidos pelos sentidos, apenas percebem aquilo que distingue uma árvore das outras, mas não a sua
natureza subjacente3. Esta é percebida pelo intelecto. Ao fazer a pergunta: “o
que é isto?”, estamos procurando o conceito ou a definição.
Nem sempre é fácil dar a definição
de algo, pois, ao sermos perguntados, tendemos a responder com os aspectos
externos do objeto4. Se vimos uma porta, e nos perguntamos sobre o que é uma
porta, a nossa tendência é dizer que é um objeto de madeira, retangular, que
abre e fecha, todas essas informações retiradas do sentido da visão. Quando, no
entanto, dizemos que uma porta é um objeto que, se interpondo entre dois
ambientes, veda ou permite a passagem por ela, notemos que não distinguimos aí de
que é feita a porta, ou a cor, ou o formato, mas falamos sobre o que é “ser
porta”.
Tanto os sentidos quanto a
razão nos permitem conhecer as coisas. Com efeito, dizer que uma porta é azul
é, também, conhecer algo de um objeto em particular. Mas este azul será um dado
secundário à existência da porta enquanto porta. Conhecer algo, portanto, é,
primeiro, saber o que aquilo é e, só depois, distinguir-lhe as características
específicas.
O termo “intelecto”,
vindo do latim “intellectus”, pode significar “leitura por dentro”. Isso significa
que, enquanto os nossos sentidos percebem a aparência de um objeto, o nosso
intelecto penetra no objeto e capta o que ele é debaixo da aparência.
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1- Caracteres secundários - traços de um objeto que, se lhe fossem distintos, o objeto permaneceria sendo o que é. Ex.: cor, tamanho, etc.
2- Dados dos sentidos - informações que são percebidas pelos 5 sentidos, que são a audição, a visão, o olfato, o tato e o paladar.
3- Natureza subjacente - é a realidade que está sob as características secundárias. Por exemplo, a porta é a realidade que está sob a cor azul.
4- Aspectos externos dos objetos - o mesmo que caracteres secundários.
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