sábado, 22 de fevereiro de 2014

A especificidade da Filosofia Moderna


A Filosofia surgiu há muito tempo atrás: mais ou menos no fim do século VII e início do VI a.C. Tendo sido iniciada pelos gregos, ela depois se espalhou pelo mundo e se estendeu até os dias de hoje, estando ainda a pleno vapor. Contudo, no decorrer dos anos, ela passou por várias mudanças, seja no seu objeto de estudo, seja no seu modo de investigação.

Em função dessas mudanças, que acompanharam também mudanças históricas e sociais importantes, convencionou-se dividir a História e a Filosofia em três grandes momentos: Filosofia Antiga, correspondente à Idade Antiga; Filosofia Medieval, correspondente à Idade Média; e Filosofia Moderna, correspondente à Idade Moderna. Notem que o termo "média" só faz sentido como meio entre outros dois. Contudo, depois da Idade Moderna, aconteceu uma outra ruptura e deu-se início ao que alguns chamam de "Idade Pós-Moderna" ou "Idade Contemporânea", a ela correspondendo, também, uma filosofia própria.

Temos, então, os seguintes períodos filosóficos:


Mesmo que mudanças no jeito de filosofar fossem frequentes, na Idade Moderna aconteceu algo absolutamente diferente de toda a filosofia anterior. De algum modo, a Filosofia Medieval dá continuidade à Filosofia Antiga, ainda que com acentos originais. Porém, a Filosofia Moderna romperá com toda a filosofia anterior. Expliquemos em que consistiu essa mudança:

Quando nós desejamos conhecer, por exemplo, o que é uma árvore, toda a nossa atenção se volta à árvore tal qual a vemos. Observamos as folhas, as cores, a textura, etc., e dizemos: "a árvore é assim". Este modo de estudo é próprio da Filosofia Antiga e Medieval, que podemos chamar de Filosofia tradicional.

A Filosofia Moderna, contudo, dá-se de um modo diferente: se observamos uma árvore, não é na árvore que colocamos a nossa atenção, mas na nossa capacidade de conhecê-la. Quando olhamos, por exemplo, a cor amarelada das suas folhas, não dizemos que o amarelo pertence às folhas, mas dizemos somente que nós vemos o amarelo. A atenção está em nós, no nosso pensamento, na nossa percepção. Isto se dá porque os modernos perceberam que a nossa percepção pode nos enganar.

Se, ao olharmos um objeto, nós nos enganamos a respeito dele, começa a surgir uma certa desconfiança sobre a real capacidade de conhecimento que nós possuímos. Quando olhamos o sol, o sol nos parece menor que a terra, embora, na realidade, ele seja maior. Quando olhamos a profundidade de uma piscina, ela sempre parece mais rasa do que realmente é. Às vezes, estamos em casa e, de repente, escutamos alguém chamar o nosso nome e, quando vamos olhar, não tem ninguém. Tantas outras vezes, vemos alguém conhecido na rua e até acenamos, mas, depois, notamos que não era a pessoa que pensávamos.

Por esse motivo, os modernos começaram a se fazer perguntas do tipo:

- É possível conhecer alguma coisa?
- O mundo é realmente como o percebemos?
- Se é possível conhecer, até que ponto isso é possível?
- Será que a nossa percepção não modifica alguma coisa da realidade?

A Filosofia moderna, portanto, se caracteriza por uma atenção voltada para o sujeito, para a sua capacidade de conhecimento e de percepção. Será uma análise sobre o alcance da mente humana. Até que ponto é possível conhecer? Diferentes respostas serão dadas a essa pergunta, e a cada resposta corresponderá a uma corrente filosófica diferente.

Tentemos responder às seguintes perguntas:

- Como saber se o mundo é realmente como nós vemos?
- Como saber se os meus 5 sentidos estão realmente me dizendo a verdade?
- É possível conhecer tudo, ou só uma parte da realidade?

Agora, observe as figuras abaixo:

Qual é o círculo vermelho maior?
Na verdade, ambos são do mesmo tamanho.
O que você vê nas figuras abaixo?
Além das taças, consegue perceber os rostos?
Os dados estão deitados ou estão em pé?
O que é isto? Um coelho ou um pato?
Que animal é este? Um cavalo ou um sapo?

Fábio Silvério

A importância da dúvida


Aristóteles escreveu: “todo ser humano deseja naturalmente conhecer”. Isso significa que todas as pessoas têm o desejo de saber alguma coisa, não importa o que seja. Este desejo nunca cessa. Mas o que é um desejo? Um desejo é um incômodo interno que faz a pessoa ir buscar aquilo que está desejando. Lembremos das grávidas e de como costumam acordar de madrugada com os desejos mais esquisitos: “amor, estou com desejo de sopa de lagartixa”, ou “amor, to desejando comer um pedacinho de tijolo”, etc. O desejo é um incômodo que pede satisfação. Ele pode ser mais ou menos forte. Uma pessoa viciada costuma ter um desejo forte. Para satisfazê-lo, às vezes ela até comete crimes. Pois bem.. Aristóteles está dizendo que, de algum modo, nós passamos a vida inteira “viciados” em conhecer. Ele nos definiu como “animais racionais”, isto é, animais que pensam e que querem saber o que são as coisas.

Há algumas coisas que já sabemos o que são. Ninguém ignora o que é uma mesa, ou um caderno, ou um livro, mas pode ignorar do que é feita a mesa, ou quem é o fabricante do caderno, ou ainda sobre que assunto é o livro. É a partir da nossa ignorância que surge o desejo de conhecer. Mas antes de surgir o desejo, não basta ser ignorante a respeito de um assunto; é preciso ficarmos conscientes da ignorância, isto é, percebermos que não sabemos, saber que não sabemos, como dizia Sócrates. É só quando eu percebo o que me falta que eu posso buscar isso que me falta.



Quando a falta se torna consciente, ela se manifesta primeiramente como um incômodo interno e, depois, se externa como pergunta. Lembremos quando estamos com fome: primeiramente percebemos a fome como um desejo de comida. Em seguida, este desejo nos faz pedir por comida. A pergunta é como um pedido de resposta. 

Poderíamos, portanto, dizer que a pergunta significa três coisas:

1-      É fruto da consciência de que desconhecemos alguma coisa;
2-      É produto do nosso desejo de conhecer;
3-      É o segundo passo em direção ao saber, sendo o primeiro a consciência de que não sabemos.

O processo de conhecimento, então, se dá do seguinte modo:


Tentemos responder às seguintes questões:

- É possível ignorarmos alguma coisa e não percebermos o que ignoramos?
- É importante perguntar?
- Por que às vezes temos medo ou vergonha de perguntar?
- É possível achar que sabemos alguma coisa e, na verdade, não sabermos?
- Como podemos perceber que o que sabemos está errado?

Fábio Silvério