terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Re-recuperação de Filosofia - 3ºs anos


Assuntos:

René Descartes: os três tipos de idéias, o cogito e a existência da alma.

OS TRÊS TIPOS DE IDÉIAS:

As idéias que possuímos se dividem em três tipos:

1ª - Nascem conosco - São chamadas de Inatas. Alguns exemplos são as idéias matemáticas, e as idéias de infinito e perfeição;

2ª - Vêm de fora por meio dos sentidos - São chamadas de Adventícias. Alguns exemplos são as idéias de vermelho (que vem pela visão), de som baixo (que vem pela audição), de frieza (que vem pelo tato), de fedor (que vem pelo olfato) e de doce (que vem pelo paladar);

3ª - Vêm da junção ou composição entre idéias outras idéias - São chamadas de Factícias. Alguns exemplos são as idéias de sereia (junção entre as idéias de mulher e peixe), de super homem (junção entre as idéias de homem, pássaro, poder), de lobisomem (junção entre as idéias de homem e lobo), de vampiro (junção entre as idéias de homem e morcego), de montanha de ouro (junção entre as idéias de montanha e ouro), etc.

As idéias, portanto, só podem ter três fontes: nascem conosco (inatas), vêm de fora pelos sentidos (adventícias), vê de uma composição entre idéias anteriores (factícias).


O COGITO

Descartes passou a investigar os modos de conhecimento humano para ver se havia algum tipo de conhecimento do qual não fosse possível duvidar. Ele só pretende alcançar pelo menos uma verdade absoluta.

Ele então percebeu que existem dois modos de conhecimento:  o pelos sentidos (idéias adventícias) e os que nascem com a pessoa (idéias inatas) 

Quantos e quais são os sentidos? São 5: visão, audição, olfato, tato e paladar. As informações que nos chegam pelos sentidos são absolutamente confiáveis? Descartes dirá que não. Vejamos por quê:

Visão - os olhos podem nos enganar? Sim. Todos nós já vivemos situações em que os olhos nos enganam. Uma piscina parece mais rasa do que é. O sol parece menor do que é. Às vezes vemos uma pessoa e pensamos que é outra.. etc. Logo, se os olhos podem nos enganar uma vez, já não são inteiramente confiáveis;

Audição - o ouvido pode nos enganar? Sim. Também já escutamos vozes que julgávamos de conhecidos nossos e, na verdade, não eram. Ou ouvimos o nosso nome ressoar e, quando vamos olhar, não é ninguém. Diante de uma música, duas pessoas têm impressões diferentes; uma diz que o cantor desafinou, outra diz que não, etc. Logo, se o ouvido pode nos enganar uma vez, já não é inteiramente confiável;

Tato - O sentir da pele pode nos enganar? Sim. Duas pessoas discordam sobre a quentura de um ambiente, sobre a dor de uma injeção, sobre a intensidade de um choque, etc. Logo, se o tato nos engana, já não é inteiramente confiável;

Olfato - o nariz nos engana? Sim. Há cheiros que nós não sabemos bem se é de uma coisa ou de outra. Há perfumes que são apreciados por uma pessoa e depreciados por outra, etc. Logo, se o nariz nos engana, já não é inteiramente confiável;

Paladar - a língua nos engana? Sim. Existem sucos que nós não sabemos distinguir direito de que é. Ficamos em dúvida: "é cajá ou maracujá?". Discordamos, também, quando vamos tomar um café e um diz que está muito doce, enquanto outro diz que não está. Logo, se a língua nos engana, já não é inteiramente confiável.

Ora, se os 5 sentidos nos fornecem informações divergentes, então não se pode confiar neles com certeza absoluta.

Além disso, há a possibilidade de que estejamos sonhando. Como garantir que não estamos dormindo agora, e sonhando com tudo isso? Em geral, só percebemos que é sonho depois que acordamos, com algumas poucas exceções, é claro. Portanto, no sonho temos variadas idéias adventícias, isto é, que vêm pelos sentidos e, no entanto, nenhum daqueles seres que vemos, ouvimos ou tocamos é real.

As idéias adventícias, portanto, não são confiáveis.



Resta-nos analisar as idéias inatas.

Para Descartes, esta é principalmente a matemática. Na verdade, não é preciso nenhum sentido em particular para se saber matemática: tanto um cego, quanto um surdo, etc., saberão que dois mais dois são quatro. Isto é uma coisa que nós sabemos através da pura razão.

É possível duvidar da matemática? Descartes primeiramente reconhecerá que este tipo de conhecimento é mais seguro que o anterior, porque mesmo que a percepção dos sentidos se altere, o conhecimento matemático permanece o mesmo. Mesmo se a pessoa estiver sonhando, a matemática continua sendo válida. Se sonharmos, por exemplo, com três pokemons, só podemos contá-los porque o conhecimento matemático continua valendo.

A única possibilidade de a matemática nos enganar é se houver algum tipo de ser ruim que tenha acesso aos nossos pensamentos e possa manipular-nos. A este ser, Descartes chama de "Gênio maligno". 

Descartes não está dizendo que este ser exista, mas que, se ele existisse, a matemática não valeria, pois este gênio poderia enganar a nossa mente e fazê-la pensar que dois mais dois são quatro quando, na verdade, seriam cinco. Como não é impossível que tal ser exista, também não é impossível que a matemática seja falha. Lembremos que a intenção de Descartes é encontrar um conhecimento que seja cem por cento confiável.

Chega ele assim a duvidar dos dois modos de conhecimento: o pelos sentidos e o pela pura razão.

Porém, Descartes se dá conta de um terceiro modo de conhecimento e que lhe dará a certeza que ele tanto procura. Ele dirá: 

- Eu estou duvidando de tudo;
- Mas, se eu duvido é porque eu estou pensando;
- Se eu estou pensamento é porque eu existo.

Daí a fórmula: "Cogito, ergo Sum", que significa "Penso, logo Existo".

Este tipo de conhecimento é tão perfeito que nenhum gênio maligno poderia enganá-lo. Só é possível enganar alguém que pensa. Ora, se este alguém está pensando, então é certo que ele existe. Também não é possível duvidar disso, pois, se eu duvidar que existo, enquanto duvido eu penso, e enquanto penso eu existo. Se eu duvidar que existo, então eu existo. É importante perceber isso aqui com clareza.


PROVA DA EXISTÊNCIA DA ALMA

No seu exercício de duvidar de tudo, Descartes chega também a duvidar que tem um corpo. Na verdade, como nós sabemos que temos um corpo? Ora, sabemos disso porque nós vemos o nosso corpo (visão) e porque o sentimos (tato) e às vezes o escutamos (audição).

Visão, tato e audição são sentidos. Acabamos de ver mais acima que não podemos confiar nos sentidos, pois eles podem estar nos enganando. Disso se conclui que não podemos ter certeza de que temos corpo. Logo, também não podemos ter certeza de que temos cérebro, pois o cérebro é uma parte do corpo. Se duvidamos do corpo, duvidamos do cérebro.

Porém, Descartes perceberá que, embora eu possa duvidar que tenha cérebro, eu não posso duvidar de que penso, pois, se eu duvidar já estarei pensando. A própria dúvida é um pensamento. Desse modo, não é possível duvidar do pensamento.

Ora, se eu posso duvidar que tenho cérebro e não posso duvidar de que tenho pensamento, a conclusão é:

Cérebro e Pensamento são coisas diferentes. O pensamento, portanto, não é corpo, não é físico. Se não é físico, não participa da mortalidade do corpo. Assim, mesmo quando a pessoa morre, a alma não precisa morrer, pois ela não é física. Fica assim provada a existência da alma.

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