sábado, 30 de agosto de 2014

O Empirismo de David Hume


David Hume foi um filósofo escocês que radicalizou o empirismo. A princípio, suas idéias são semelhantes às de Locke:

O pensamento possui duas fontes:

- A Impressão - é o contato direto dos sentidos com os objetos externos. (O que Locke chamava de Sensação).

- As idéias - é a lembrança enfraquecida das impressões. De fato, há diferença entre a experiência direta de algo e a sua representação mental, isto é, a sua lembrança.

Por este motivo, dizemos que a Impressão é mais intensa, e as idéias, que derivam das impressões, são mais pálidas, isto é, menos intensas. A experiência dos sentidos, então, é a origem de todo o conhecimento humano.



Hume afirmava, também, que possuímos em nós o hábito de relacionar as idéias umas às outras através de três critérios: a semelhança, a proximidade espacial e a proximidade temporal. Por exemplo: se encontramos uma pessoa parecida com uma outra, não apenas vemos a pessoa, mas lembramos da outra; se vemos uma flor que costumava sempre estar nos cabelos de uma mulher, tendemos a associá-las. Daí, quando vimos a flor, lembraremos da mulher. O mesmo ocorre com perfumes. 

Além disso, se um fato ocorre imediatamente depois de outro, também tendemos a associá-los, dizendo que os primeiros são causas dos segundos. Por exemplo: se alguém emborca a sandália e, em seguida, ocorre algo ruim com ele, dizemos que isto ocorreu porque ele deixou a sandália emborcada, etc. Para Hume, esta é a natureza da causalidade.

Há aqui um problema.

Ao notar que as idéias referem-se sempre a experiências sensoriais (dos sentidos) e, em seguida, percebendo que estas experiências se dão sempre com seres particulares (individuais), como podemos ter em nós idéias gerais?

Demos um exemplo: se eu só vejo uma ou outra pessoa morrerem, como eu posso, porque vi três ou quatro pessoas assim, dizer que todas morrem? Outro exemplo: eu vejo vários animais e noto que, quando estão vivos, eles respiram. Mas eu sempre os vi como seres particulares. Eu nunca vi todos os animais. Portanto, não é possível saber sobre todos os animais. No entanto, eu digo que todos os animais vivos respiram. Na verdade, eu somente poderia me pronunciar sobre aqueles com os quais eu tive contato, e não sobre todos, uma vez que nós não conhecemos todos os animais.

Esse mecanismo de partir de experiências particulares e, com base nelas, ir para afirmações gerais, chama-se indução e é a base de todo o conhecimento científico. Quando a ciência percebe que um fato ocorre sempre nas mesmas condições - por exemplo, a água ferve aos 100 ºC -, então ela chama isso de lei e diz que aquilo ocorrerá sempre. Mas, na verdade, tudo o que ela sabe é que esse fenômeno aconteceu somente nos casos observados. Não há, portanto, uma ligação necessária entre a causa e o efeito. 


Quando vamos jogar sinuca, sabemos que, para derrubarmos uma bola, é preciso acertar outra (a branca) com um taco. Aqui há uma série de causalidades: o movimento do braço causa o movimento do taco, que causa o movimento da bola branca, que causa o movimento da bola que vai cair. Ora, supor que todas as vezes que acertarmos a bola branca, ela vai se mover é uma afirmação geral que, simplesmente, é impossível de se fazer. 



Lembremos que todo o nosso conhecimento vem da experiência, e nós ainda não temos experiência das tacadas futuras. A rigor, o que vemos nas vezes que jogamos é que há fenômenos separados: o taco se move, a bola branca se move, a outra bola se move. No entanto, a relação entre esses fenômenos não é apreendida pela mente; ela é criada, é afirmada, por um mecanismo de associação. Como o movimento do taco vem antes do movimento das bolas, geramos em nós a idéia de que uma coisa causa a outra, mas essa idéia da causalidade não vem da impressão; ela é criada por nós. Ora, se não vem da impressão, então não tem fundamento, pois toda idéia, para ser correta, tem de vir da experiência sensível.

Ao afirmar que a causalidade é uma afirmação geral e que, no entanto, as afirmações gerais não têm fundamento, Hume ensina que a Ciência é impossível. Não é possível fazer afirmações gerais sobre nada porque as nossas impressões, fontes de todas as idéias que temos, são sempre impressões particulares.

Essas nossas idéias gerais surgem do nosso costume de associar os fenômenos. Mas a associação não é um dado da experiência, é uma construção mental. A razão humana, portanto, pode ser definida como o hábito de fazer associações.

Lembremos as causas da associação:

- Semelhança;
- Proximidade espacial;
- Proximidade temporal.

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