terça-feira, 27 de maio de 2014

Pitágoras - Tudo é número


Pitágoras foi um sujeito de quem pouco se sabe. Teria viajado bastante e, na sua passagem pelo Egito, supostamente teria conhecimento o profeta Daniel. Era, além disso, superior de uma religião cujas informações também nos são escassas. Sabemos, dentre outras poucas coisas, que criam na transmigração das almas e num rigoroso ascetismo. Os que participavam deste movimento religioso faziam voto de segredo, resultando em excomunhão o não cumprimento da norma. Pitágoras não deixou obra escrita, e é impossível identificar o que de fato é doutrina dele e o que é apenas acréscimo de seus discípulos.

Pitágoras, além de filósofo, era matemático, tendo sido o criador do famoso ""Teorema de Pitágoras", usado na resolução de equações de segundo grau.

Bem, Pitágoras, assim como os filósofos pré-socráticos anteriores, está também procurando sobre o princípio do Cosmos. E, curiosamente, ele dirá que tudo veio do Número.


Tentemos compreender a razão de Pitágoras ter dito que tudo veio do número. A princípio, pode parecer não haver muito sentido nisso. Contudo, veremos que que a teoria não é assim tão infundada.

Pitágoras percebeu, assim como os demais filósofos antes dele, que o mundo é Cosmos, isto é, possui uma ordem. Como matemático, sabia que uma coisa está ordenada quando está bem distribuída, isto é, quando está organizada em quantidades adequadas. Ora, a quantidade é uma categoria matemática. Daí que, se tudo quanto há está ordenado, então tudo quanto há está organizado matematicamente.

Observemos alguns exemplos:


Aqui temos uma "casa de abelhas". Se nós percebermos, elas a constroem utilizando-se de uma figura geométrica: o hexágono, uma figura de seis lados



Descobriu-se que esta figura é a mais perfeita possível para se fazer uma casa de abelhas. Isto significa que as abelhas agem de modo estritamente matemático. De que modo, então, as abelhas saberiam disso, visto que elas não possuem inteligência? A conclusão que se impõe é esta: as abelhas não apenas agem matematicamente, mas estão organizadas matematicamente, de modo que, tudo quanto façam, esteja ordenado deste modo.

Vamos a outro exemplo:

Tomemos a rota dos planetas:


Os corpos celestes agem de modo rigorosamente matemático. Os cientistas falam de uma "sintonia fina", que é uma organização matemática tão precisa que, se fosse levemente alterada, tornaria impossível a vida. É impressionante observar como tudo no espaço é devidamente ordenado, organizado. Tudo obedece a leis matemáticas. As rotas dos planetas se completam em um tempo sempre semelhante; eles estão se movendo a uma velocidade tal que permite que, nem sejam atraídos de vez pelo sol, nem se percam no espaço, se afastando dele. É tudo magnífico...


Observemos agora estes cristais de gelo, que, quando maximizados, permitem notar a perfeição matemática com que estão construídos:

Um fenômeno que nos é muito frequente e que, por isso, talvez não nos espante da perfeição matemática que demonstra, é o que ocorre quando um lago é atingido por algum objeto. Círculos perfeitos se formam.


Exemplos não nos faltam. Toda a natureza poderia servir para ilustrar a teoria de Pitágoras. Mas, para ficarmos só em mais um, ele percebeu que a música é um tipo de matemática sonora. 


Ele havia percebido que, ao se dividir matematicamente as cordas de um instrumento, o resultado são intervalos musicais distintos. Dentre as divisões, Pitágoras encontrou três notas diferentes: a 1ª, a 3ª e a 5ª. Essas são as notas que formam um acorde. As pessoas que tocam algum instrumento saberão, por exemplo, que para formar o acorde de Dó, nós juntamos três notas: a 1ª (Dó), a 3ª (Mi) e a 5ª (Sol). Também nos corais, a divisão das vozes obedece a mesma lógica. Pitágoras parecia pensar que o movimento dos planetas também produziria algum som, uma espécie de harmonia.

Vejamos o que diz Aristóteles sobre os Pitagóricos:

"Também [havia] a afirmação de que uma harmonia é engendrada pelo movimento dos astros, como sons produzidos sinfonicamente (...) Alguns pensadores deduzem que necessariamente o movimento de corpos tão grandes deve produzir um som. Pois isto já acontece com corpos sobre esta Terra, embora não tão grandes e transportados por movimentos de menor velocidade. Assim, a enorme velocidade do sol e da lua e dos astros em tão grande número e tamanho deve necessariamente produzir sons prodigiosos. Admitem isto e também que a diversa distância dos astros de seu ponto central corresponde às relações numéricas da harmonia musical. E como resultasse absurdo que não ouvimos este som, explica que o ouvimos desde o nascimento, e em consequência falta o contraste com o silêncio necessário para que o possamos perceber."

Disto tudo concluímos que a matemática está em tudo e que tudo está feito matematicamente. Ora, se tudo quanto existe está feito matematicamente, então a matemática deve ser necessariamente anterior a tudo quanto existe. Se a matemática fosse posterior ao mundo, não haveria como o mundo, já no seu início, ter sido feito matematicamente. A necessidade é que ela seja anterior. Ora, se a matemática vem antes, então é preciso admitir que tudo veio do número. É a teoria de Pitágoras. Além disso, Pitágoras dirá que os números não apenas expressam a disposição dos seres, mas que, de certo modo, os constitui.

"Os assim chamados pitagóricos, tendo-se dedicado às matemáticas, foram os primeiros a fazê-las progredir. Dominando-as, chegaram à convicção de que o princípio das matemáticas é o princípio de todas as coisas. E como os números são, por natureza, os primeiros entre estes princípios, julgando também encontrar nos números muitas semelhanças com seres e fenômenos, mas do que no fogo, na terra e na água, afirmavam a identidade de determinada propriedade numérica com a justiça, uma outra com a alma e o espírito, outra ainda com a oportunidade, e assim todas as coisas estariam em relações semelhantes; observando também as relações e leis dos números com as harmonias musicais, parecendo-lhes, por outro lado, toda a natureza modelada segundo os números, sendo estes os princípios da natureza, supuseram que os elementos dos números são os elementos de todas as coisas e que todo o universo é harmonia e número." (Aristóteles)

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